PRATICANDO PORTUGUÊS

 

Trabalhar em português num contexto linguístico como o de Timor Leste implica saber que língua oficial não é sinónimo de língua materna. Embora o português seja uma das línguas oficiais de Timor Leste, não é a língua materna da esmagadora maioria dos timorenses. O português não é, para muitos, a primeira língua ou a língua da família ou do dia a dia. A língua portuguesa em Timor Leste é língua de escolarização e tem um estatuto sociopolítico privilegiado, devendo, portanto, ser encarada e trabalhada como uma língua segunda.

Cheguei a Timor Leste em 2002. A minha primeira experiência foi numa escola pré-secundária. Os alunos sabiam pouco mais do que apresentar-se em português. Era difícil comunicar e as condições da escola (da minha e de muitos outros professores portugueses) não ajudavam. As turmas de 50 alunos tinham apenas uma aula de duas horas semanais para aprenderem português. Não havia manuais nem fotocópias: tudo era escrito no quadro. Em 2013, a realidade da língua portuguesa é diferente. Os ex-alunos que vim encontrar na RTTL mostram-me que o português está bem longe do ponto de partida em que se encontrava há uns anos. É óbvio que ainda há muito caminho a percorrer. Falo dos constrangimentos à divulgação de uma língua num país ainda em construção, mas também das naturais dificuldades de quem usa, como ferramenta de trabalho, um idioma que não é a sua língua materna. O “Praticando Português” nasce da observação que fui fazendo dos problemas linguísticos de jornalistas e tradutores da RTTL.

Não se aprende apenas numa sala de aula. A autonomia dos indivíduos é cada vez mais valorizada na aprendizagem. Segundo Meighan e Roberts (1986), a aprendizagem autónoma assenta, entre outros, no reconhecimento do dinamismo do conhecimento, no papel ativo do aprendente e na diversificação de recursos para aprender. Esta autonomia é igualmente referida por Vieira e Moreira (1993), que, no que toca às línguas estrangeiras, defendem, além da competência comunicativa, o desenvolvimento de competências de aprendizagem.

As tecnologias constituem-se hoje como grandes impulsionadoras da aprendizagem autónoma. Grande parte dos materiais interativos do “Praticando Português” foi construída através do programa Hot Potatoes. Esta ferramenta da Web 2 é de fácil uso e permite que os aprendentes recebam um feedback do seu trabalho. Além destes exercícios interativos, foram colocados recursos do Portal das Escolas (www.portaldasescolas.pt). Os utilizadores poderão praticar o léxico, gramática, compreensão do oral e da leitura. Todas as tarefas são organizadas de acordo com o grau de dificuldade. São ainda disponibilizados endereços de média lusófonos para consulta. Importa referir que o "Praticando Português" ainda se encontra em construção, pelo que os seus conteúdos serão semanalmente atualizados.

Cláudia Taveira,

Formadora de Língua Portuguesa na RTTL no âmbito do Projeto de Apoio à Comunicação Social.

 

Meighan e Roberts (1986). Sociology of Education. London: Cassel Education.

Vieira, Flávia e Maria Alfredo Moreira (1993), Para além dos testes…A avaliação Processual na Aula de Inglês. Instituto de Educação, Braga: Universidade do Minho.